segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os Demônios por Fabio de Andrade

Em março terminei a leitura deste livro, comentei tal fato com a Tati, ela me pediu que escrevesse sobre esta obra.

A tarefa parece simples, apenas parece...

Trata-se de uma obra de Dostoievski, na qual ele pretende reconstruir um incidente, qual seja, o assassinato de um jovem estudante por um grupo de revolucionários niilistas. Na construção dessa história Dostoievski apresenta a sua visão sobre a Rússia, e sobre o “espírito do povo russo”, neste empreendimento há críticas para os ocidentalistas, isto é, aqueles que desejam maior integração da Rússia com a Europa, seja comercial ou culturalmente, além disso, há uma crítica muito forte aos niilistas. As idéias desse movimento se amparavam num tripé: descumprimento das normas sociais, não reconhecimentos das autoridades, por fim os esforços pessoais deveriam ser voltados para a ciência, porque a arte não leva a nada. Essas idéias tiveram um impacto muito forte na Rússia, em especial entre os jovens, num contexto em que se extinguia a servidão, fato que seria uma mudança social, considerada “amena” parte da população russa desejava transformações substanciais.
Esse é o pano de fundo dessa obra, é importante destacar que esse mesmo cenário foi analisado por Ivan Turgueniev, em seu Pais e Filhos, no qual o autor vê o movimento niilista como resultado de um conflito de gerações, simples assim. Não é essa a percepção de Dostoievski, este autor, acredita que esse movimento dá vazão para que os seres humanos manifestem os seus piores instintos, ademais a busca por mudanças sociais abre brecha para que percamos o livre-arbítrio em prol de uma causa comum, a combinação desses elementos na visão do autor é catastrófica! Daí o nome os demônios, os quais podem nos guiar rumo a um desfiladeiro, enquanto permanecem ilesos. Dostoievski constrói personagens para algumas figuras influentes do pensamento russo, há revolucionários, referência a Bakunin, ocidentalistas, referência a Turgueniev, entre outras referências que não são de meu conhecimento. Por isso, para uma leitura mais proveitosa é recomendável que se conheça o que pensam algumas dessas figuras.
Sobre as minhas impressões: É um livro que tem um propósito, uma mensagem, que pode ser assim resumida: Abrir mão da cultura de um povo e do livre-arbítrio das ações individuais não é bom; como os movimentos revolucionários se amparam sobre essa base, seus resultados são horríveis. Se o leitor compartilhar dessa tese, a leitura flui bem, se não a leitura pode gerar um desconforto. Apesar do tom panfletário, o estilo de Fiodor está lá, isto é, há reflexões sobre a existência, sobre a morte, passagens memoráveis, por exemplo, “O incêndio é em nossas mentes...” solto assim pode parecer desconexo, mas dentro do contexto... Sensacional!
A leitura é um pouco truncada no começo, pois há uma longa apresentação de um dos personagens centrais, quando os fatos começam a se desenrolar a leitura torna-se dinâmica.
Recomendo, pois vale tanto pela leitura, como para estimular reflexões...