quarta-feira, 28 de abril de 2010

Love the one you're with


Love the one you're with, foi este o livro de Abril, daquela "esquecida" lista. É a situação que todos podem viver, se já não viveram alguma vez na vida. Relações que parecem perfeitas na superfície. Claro que no livro a protagonista descobre que apesar dos pesares, ou seja, mesmo levando em consideração os problemas por ela enfrentados em seu casamento, ela deve permanecer nele. Mesmo depois de reencontrar o que diz ter sido (ou ser) o grande amor de sua vida, para ela, impossível de esquecer. 

A mensagem deveria sem mais ou menos assim: porque escolhemos amar aqueles que amamos, e porque não conseguimos esquecer aqueles que não são foram feitos para ser. Um pouco clichê o livro, mas ao mesmo tempo uma leitura agradável.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Mrs. Dalloway - o Filme

Ontem assisti ao filme baseado no livro de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway. Como a leitura do livro foi, no meu caso, um primeiro contato com Virginia Woolf, a obra não tinha causado tanto impacto por não notar, num primeiro momento, o quanto de Virginia tem a obra.
O filme é fiel ao livro. É claro que com suas limitações, assim como tantos filmes adaptados de grandes obras literárias. Mas o mais importante, todos os personagens possuem angústias que eram as angústias da própria autora. A vida sem entusiasmo de Mrs. Dalloway é a primeira angústia. Os dias passados sem sentido, onde a preocupação única e vaga de sua vida são os preparativos de suas festas, a contestação interna de Mrs. Dalloway ao ver para onde sua vida a levou, à renúncia de emoções, a quase paralisia de propriamente viver.


O soldado o qual, recentemente retornou da Guerra, sofre sérios problemas psicológicos e é tratado por médicos com certo desdém, como simplesmente louco, que precisa de repouso. Foi o que Virginia certamente muito escutou em sua vida. As insinuações do porquê da necessidade do tratamento de isolamento, como uma obrigação, afinal, ele já havia atentado à sua própria vida anteriormente. É essa obrigação que Virginia contesta em praticamente toda sua vida, quando é obrigada a deixar Londres e sua vida agitada, para morar no interior, sem as emoções que lhe causariam tanto mal, afinal, ela também já havia atentado contra sua própria vida. 

É o rapaz que acaba se matando, dando à Clarissa Dalloway, ao mesmo tempo, o incentivo a libertação de seus tormentos, através da morte, assim como a revalorização da própria vida. Afinal, nas palavras de Virginia: 

“Someone has to die in order that the rest of us should value life more.”

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mrs. Dalloway

Luiz Felipe Pondé escreveu na Folha de São Paulo hoje, dia 12/04/2010 sobre "Mrs. Dalloway", obra de Virginia Woolf. Segue na íntegra o texto:




MORAVA EU num kibutz em Israel. No final do dia de trabalho físico extenuante, lia na porta do meu quarto, ensaiando meus primeiros cachimbos. Durante alguns meses devorei livros da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941). Entre eles, um que me marcou excepcionalmente foi "Mrs. Dalloway", publicado em 1925.

Revi o maravilhoso "As Horas" (2002), com Nicole Kidman. E sempre quando vejo esse filme me lembro de como ela foi essencial, ainda que de modo pontual, em minha visão de mundo. No fundo, sempre suspeitei de que cada dia é mais um dia sob o risco de ser devorado pelo sentimento último da melancolia. 
Às vezes na vida se faz necessário rompimentos com o cotidiano para que possamos ver melhor o sentido do que fazemos, ou a total falta de sentido. A vida se degrada facilmente na rotina de tentar mantê-la funcionando, por isso a derrota, como no livro "Mito de Sísifo" (1942), de Albert Camus, pode ser a condição necessária para a consciência repousar em paz consigo mesma. Vencer sempre pode ser um inferno. 
Na época, atravessando minha primeira (de várias) crises com minha formação médica então em curso, busquei fugir para alguma fronteira do mundo. Trabalhei no deserto do Neguev algumas vezes e posso dizer que o pôr do sol no deserto vazio é uma experiência de dar inveja. A possibilidade de caminhar pelo deserto, como me disse certa feita o escritor israelense Amós Oz, refaz a alma porque vemos nosso rosto refletido na poeira. O deserto nos ensina a humildade, e a humildade é sempre imbatível. Humildade nada tem a ver com humilhação, mas, ao contrário, humildade fala da consciência de que somos efêmeros como o vento. E só como efêmeros que podemos perceber a dádiva que é respirar. Há um modo misterioso em como o deserto chama seu nome quando você está disposto a ouvi-lo. 
Na época, já sabia que Virginia Woolf havia se suicidado e, por isso mesmo, quis conhecer sua obra. Nunca fui um deprimido clínico, mas sempre me surpreendi pelo fato de não sê-lo. Muitas vezes pareceu-me que, se fosse viver pelo que a razão me diz, já teria sucumbido à melancolia profunda. O que me encantou em Mrs. 
Dalloway foi seu esforço em ser normal e feliz e acreditar em si mesma e na sua fidelidade à rotina. No dia em que se passa a história, ela organiza uma festa em sua casa. Manter a vida aí se equipara ao esforço descomunal de erguer uma festa quando, no fundo, ela se sente vazia e sem razões para festejar. Entre uma alma triste e uma rotina vazia, ela opta pela segunda como falta de escolha porque não pode confiar na tristeza. 
Penso no número enorme de pessoas que se levantam pela manhã assim como quem carrega um corpo que não é seu. Mrs. Dalloway é o fim de quem ingenuamente acredita que as coisas sempre darão certo, bastando festejar a rotina comum. Não, a rotina é indiferente à nossa fidelidade, podendo nos destruir mesmo quando a servimos como a um senhor todo poderoso. O pesadelo de Mrs. Dalloway é se ver como estrangeira em sua própria alma. 
Aprendemos com ela que a vida não é necessariamente bela e que tentar negar isso é uma forma de permanecer escravo de sua possível monstruosidade. 
No fundo de nossa alma habitam monstros que a muito custo se mantêm em silêncio. Esses monstros, quando o mundo silencia, surgem na superfície mostrando o ridículo de nossa batalha diária. 
Quantas vezes mulheres apenas suportam o choro de seus filhos, sofrendo no fundo da alma o horror que é ser obrigada a amá-los quando não sentem por eles nada parecido com amor materno, mas apenas o incômodo causado por aqueles pequenos intrusos em suas vidas. 
Quantos homens sufocam diante da certeza de que já vivem uma vida sem amor, sem afeto e sem desejo, mas que isso é tudo que suportam ao lado de suas esposas. Quantos filhos sofrem por se sentir indiferentes para com o destino dos pais idosos, tentando convencer a si mesmos de que o amor pelos pais seria o certo, mas que nada conseguem além de desejar vê-los mortos e assim se sentirem livres finalmente. 
Entre as funções da civilização, uma é a tentativa de calar esses monstros criando ritos, rituais, festas para celebrar a frágil vitória contra essas criaturas deformadas, atormentadas pelo completo desinteresse pela vida. A verdade é que não há como civilizá-las, a não ser ensiná-las que elas não têm lugar no mundo dos vivos e que, por isso, devem sucumbir à rotina da infelicidade como norma da vida. 

ponde.folha@uol.com.br

segunda-feira, 5 de abril de 2010



Não foi a pedido de ninguém, mas sinto que falta um pouco das minhas palavras sobre algumas coisas que já li no passado. Como não há muita "discussão", pois poucos são os leitores (e comentadores) do blog, o incentivo às vezes é precário. Mas voilà: Em breve falarei um pouco sobre uma das minhas escritoras preferidas, Virginia Woolf. Comentarei um pouco sobre as obras Mrs. Dalloway, As Ondas, Orlando, Noite e Dia,  e alguns contos.

Para quem não sabe, Virginia fazia parte do famigerado grupo "Bloomsbury", do qual também fazia parte Sir Lord Keynes, grupo de artistas e intelectuais britânicos que existiu de 1905 ao fim da II Guerra Mundial. Aparentemente saiu mais um livro sobre o grupo recentemente. A Inglaterra é uma produtora assídua de biografias sobre o grupo e seus integrantes, tamanho o fascínio por eles e o modo em que se relacionavam, quem sabe. 
Uma das biografias que li e gostei, é "Virginia Woolf" by Nigel Nicolson, filho de Vita Sackville-West, amiga íntima de Virginia. Quem quiser ler o primeiro capítulo segue o link: http://www.nytimes.com/books/first/n/nicolson-woolf.html