segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Como toda semana, quando vou para São Paulo de ônibus passo pela livraria da Rodoviária para ver os livros lá expostos. Para quem é apaixonado por livros um passeio desses nunca é demais. Passear por livrarias é um dos meus passatempos preferidos, além de ler livros, é claro. Mas é que como se pode ficar imune aquele lugar onde vários livros estão a mostra e você pode descobrir autores que não nunca leu, mas que estão lá há tempos, novos autores que chamam a atenção e caem em seu gosto. Enfim, como não costumo vagar muito mais pelas livrarias, mesmo porque tenho ainda muitos livros a serem lidos em casa, sem contar os já lidos que mal cabem em casa, além dos que posso ler e comprar rapidamente com meu Kindle; ainda toda semana permito-me uma espiada na pequena livraria da rodoviária.
Em meio a muitas porcarias literárias (mas isso não é exclusividade de livrarias de rodoviárias); existem coisas muito boas expostas, tal como minha última leitura: O FIM DE SEMANA de Bernhard Schlink, alemão, mesmo autor de O LEITOR, que ganhou uma versão para as telas com a participação de Kate Winslet. Como sempre, tendo lido o livro e assistido o filme, inegável a preferência pelo livro, mas foi uma adaptação boa, se bem que como o livro é de um alemão, se passa na Alemanha, remetendo à época Nazista, acho que uma adaptação coerente com a língua seria mais apresentável. Afinal temos visto muitos filmes alemães de ótima qualidade, sobre seus mais variados assuntos. 
O FIM DE SEMANA não é diferente. O autor toca em mais uma ferida desta sociedade fragmentada, dividida entre o orgulho, a vergonha e conformação. Um grupo que participou das revoluções , fazendo parte da Grupo Baader-Meinhof, fração do Exército Vermelho, organização guerrilheira de extrema-esquerda alemã, se reúne para um fim de semana 20 anos depois da prisão de um de seus colegas, então solto. As discussões são aquelas inerentes à sociedade alemã, desde a luta revolucionária por eles iniciada, até sua transformação em utopia. Os dramas pessoais de cada personagem são colocados de maneira muito interessante pelo autor, e é magnífico a identificação desses com a sociedade alemã. Quem lê o livro e conhece ao menos um pouco das características peculiares a essa nação, logo as identifica.
Fica aí mais uma dica de leitura.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

As minhas traições - JOÃO PEREIRA COUTINHO

SOU UM traidor. Sou um hipócrita. Não tenho defesa. Nem perdão. Mas guardar segredo é pior que partilhá-lo. Partilho.
Imagine o leitor: eu, num círculo de amigos literatos, discutindo as últimas novidades da "rentrée". Subitamente, alguém fala sobre o futuro do livro. E elogia as qualidades do livro eletrônico.
É nesse preciso momento que eu faço cara de nojo, limpo o suor da testa com meu lenço de renda e disparo um "jamais!" que faz tremer o salão. O meu mundo é o mundo de Gutenberg: o mundo arcaico do papel e da tinta, não de "pixels", "bits" e outras barbaridades linguísticas. Livro eletrônico? É como fazer amor com uma boneca insuflável.
"Um livro é um livro", disparava eu, em conhecido clichê. Nada substitui o objeto físico que transportamos, dobramos, sublinhamos. Tocamos. Cheiramos. Por vezes, rasgamos ou queimamos. A ideia de ler um romance, uma biografia, um mero ensaio em suporte eletrónico chegava para cobrir a minha costela conservadora de um horror herético. Nem morto.
Mas então aconteceu: uma oferta familiar em dia de aniversário. Bateram à porta. Entregaram a encomenda. Era o famoso Kindle da Amazon, com capa de pele, bonitinho. Perigosamente bonitinho.
Farejei o bicho com desconfiança primitiva. Cocei o crânio com pasmo neandertal e senti-me um dos macacos de Stanley Kubrick, na sequência inicial de "2001 - Uma Odisseia no Espaço".
Como se um objeto estranho tivesse vindo diretamente do futuro. Por milagre não quebrei o aparelho com a força das minhas ossadas. Um livro eletrônico era aquilo? "Jamais, jamais", gritava a minha pobre consciência.
Os dias passaram. O objeto, a um canto, mendigava a minha atenção sempre que passava por ele. "Jamais, jamais", repetia ainda. E sempre com menor convicção.
Uma tarde, aproximei-me. Tentei ignorá-lo, lendo ostensivamente as "Páginas Amarelas". O objeto soltou um suspiro de tristeza, quem sabe de abandono. E eu, com caridade cristã, decidi dedicar-lhe dois minutos de atenção, não mais.
Liguei o Kindle. Com enfado, fui lendo as instruções. E, por cada página lida, a pergunta mefistofélica: experimentar nunca fez mal a ninguém, certo?
Experimentei. Diretamente do site da Amazon, fui importando livros grátis. Os clássicos gregos. Os clássicos romanos. Algum Maquiavel, algum Hobbes, algum Swift. Os pensamentos de Pascal. Uma edição completa das peças do bardo. Tudo a preço zero. Em 60 segundos, a Biblioteca de Alexandria viajava até minha casa.
O meu entusiasmo começava a ser perigoso. Embaraçoso. Numa tarde, descarregara 50 livros. Outros 50 vinham a caminho.
E, pior, já começara a ler um: a autobiografia de Tony Blair, que comprei a preço reduzido. Lia. Inacreditavelmente, sublinhava. Mais inacreditavelmente ainda, escrevia notas. Aquilo não era um livro. Era melhor que um livro. Que foi mesmo que eu disse?
Hoje, levo uma vida dupla. Em público, passeio os meus grossos volumes da "Enciclopédia Britânica", em gesto de resistência ao mundo virtual. Finjo. Quando me falam nas virtudes do Kindle, ou do e-book, as minhas gargalhadas são jocosas, ofensivas, delirantes.
Mas são também forçadas e encenadas: chego em casa e chamo logo pelo meu Kindle como quem chama pelo gato. E ele vem, pronto para miar centenas e centenas de obras-primas. Se um dia a casa arder e eu estiver em estado delirante, o leitor já sabe o que significa "Salvem o gato! Salvem o gato!".
Moral da história? A internet foi a primeira grande revolução da minha existência literária. Mas o livro eletrônico será a segunda ao introduzir a mais importante divisão intelectual da vida.
Haverá sempre livros que desejarei ter; e "ter" no sentido tangível do verbo: como objetos físicos, artísticos, existenciais. Nesse sentido, as livrarias continuarão a ser os únicos templos laicos que frequento com religioso fervor.
Mas depois existirão os livros que quero ler. Simplesmente ler. Não amanhã, ou depois, ou um dia qualquer. Mas hoje. Agora. Já. O sonho de qualquer leitor curioso, insaciável, ditatorial.
Regresso ao início: sou um traidor. E no dia em que os meus amigos literatos, cansados de minhas mentiras, vierem buscar-me para a fogueira, nada peço em minha defesa. Espero apenas que poupem o gato.

jpcoutinho@folha.com.br

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Literatura Fracesa atual

Terminado o livro Boomerang da autora Tatiana de Rosnay, segundo livro dela que li. Gostei, acho a leitura bem acessível, mesmo em francês não tive nenhum problema, afinal o conteúdo é bom sem precisar de um tom muito rebuscado Além disso, o conteúdo é contemporâneo, não sei exatamente se isso é uma qualidade, mas com certeza estamos familiarizados com o palavreado e com os aparatos tecnológicos que aparecem na trama, aliás, tendência cada vez maior de incluir em personagens a utilização de por exemplo: envio de SMS, de iPod's, internet, celular, e etc e tal.
Como disse anteriormente, Boomerang retrata fielmente o drama de uma família parisiense, tipicamente moderna, em seus problemas, dilemas familiares, dramas pessoais, e relações problemáticas entre parentes,  principalmente a relação entre pais e filhos, de duas gerações bem diferentes e com valores totalmente opostos. Diria algo como "não querer repetir os mesmos erros de nossos pais", cometendo portanto, "novos erros".
Esse tal tom rebuscado já aparece no livro de Philipe Labro: Les gens.  Ainda estou no início da leitura, mas já percebo um maior grau de dificuldade para fazer a leitura em francês, com certeza demoro um pouco mais para ler as páginas, mas é um caso a ser superado. 

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

De volta!

Depois de tanto tempo longe do blog, aqui estou eu de volta.
Além da correria com o casamento, que com certeza afetou um pouco as leituras, estamos instalados temporariamente num local onde o acesso a internet é limitado, lento e portanto, nao me entusiasmo muito para escrever aqui.

Mas voila: Nao consigo me lembrar como andavam minhas leituras nesse período, mas certamente nao finalizei os livros da lista proposta no início desse Blog. Ainda estou lendo "This Charming Man", versao Kindle, e li o breve livro da Saga Crepúsculo "The short second life os Bree Tanner". Legalzinho, mas nada demais, somente indicado para aqueles que leram todos os livros da Saga porque inexplicavelmente nao conseguiram interromper a leitura.

Durante a a viagem pela France, adquiri alguns livros por lá! No aviao de volta ao Brasil, comecei a ler "Boomerang", de Tatiana de Rosnay, sim aquela já citada aqui no blog com o livro "Sarah's Key". Mas dessa vez estou lendo o livro em frances, e este está na listas dos mais lidos en France. Já estou na metade do livro e devo terminá-lo logo!
Assim como Muriel Barbery e seu livro "A elegancia do ourico" - ( L'élegance du herrisson), Tatiana de Rosnay apresenta uma descricao bem fiel da sociedade francesa atual, mais precisamente os tao criticados  les parisiens.
A quem interessar, tem o site da autora www.tatianaderosnay.com

Mais uma dica: o livro dela "A chave de Sarah" já está disponível em portugues. Vale a pena conferir!


segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os Demônios por Fabio de Andrade

Em março terminei a leitura deste livro, comentei tal fato com a Tati, ela me pediu que escrevesse sobre esta obra.

A tarefa parece simples, apenas parece...

Trata-se de uma obra de Dostoievski, na qual ele pretende reconstruir um incidente, qual seja, o assassinato de um jovem estudante por um grupo de revolucionários niilistas. Na construção dessa história Dostoievski apresenta a sua visão sobre a Rússia, e sobre o “espírito do povo russo”, neste empreendimento há críticas para os ocidentalistas, isto é, aqueles que desejam maior integração da Rússia com a Europa, seja comercial ou culturalmente, além disso, há uma crítica muito forte aos niilistas. As idéias desse movimento se amparavam num tripé: descumprimento das normas sociais, não reconhecimentos das autoridades, por fim os esforços pessoais deveriam ser voltados para a ciência, porque a arte não leva a nada. Essas idéias tiveram um impacto muito forte na Rússia, em especial entre os jovens, num contexto em que se extinguia a servidão, fato que seria uma mudança social, considerada “amena” parte da população russa desejava transformações substanciais.
Esse é o pano de fundo dessa obra, é importante destacar que esse mesmo cenário foi analisado por Ivan Turgueniev, em seu Pais e Filhos, no qual o autor vê o movimento niilista como resultado de um conflito de gerações, simples assim. Não é essa a percepção de Dostoievski, este autor, acredita que esse movimento dá vazão para que os seres humanos manifestem os seus piores instintos, ademais a busca por mudanças sociais abre brecha para que percamos o livre-arbítrio em prol de uma causa comum, a combinação desses elementos na visão do autor é catastrófica! Daí o nome os demônios, os quais podem nos guiar rumo a um desfiladeiro, enquanto permanecem ilesos. Dostoievski constrói personagens para algumas figuras influentes do pensamento russo, há revolucionários, referência a Bakunin, ocidentalistas, referência a Turgueniev, entre outras referências que não são de meu conhecimento. Por isso, para uma leitura mais proveitosa é recomendável que se conheça o que pensam algumas dessas figuras.
Sobre as minhas impressões: É um livro que tem um propósito, uma mensagem, que pode ser assim resumida: Abrir mão da cultura de um povo e do livre-arbítrio das ações individuais não é bom; como os movimentos revolucionários se amparam sobre essa base, seus resultados são horríveis. Se o leitor compartilhar dessa tese, a leitura flui bem, se não a leitura pode gerar um desconforto. Apesar do tom panfletário, o estilo de Fiodor está lá, isto é, há reflexões sobre a existência, sobre a morte, passagens memoráveis, por exemplo, “O incêndio é em nossas mentes...” solto assim pode parecer desconexo, mas dentro do contexto... Sensacional!
A leitura é um pouco truncada no começo, pois há uma longa apresentação de um dos personagens centrais, quando os fatos começam a se desenrolar a leitura torna-se dinâmica.
Recomendo, pois vale tanto pela leitura, como para estimular reflexões...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Love the one you're with


Love the one you're with, foi este o livro de Abril, daquela "esquecida" lista. É a situação que todos podem viver, se já não viveram alguma vez na vida. Relações que parecem perfeitas na superfície. Claro que no livro a protagonista descobre que apesar dos pesares, ou seja, mesmo levando em consideração os problemas por ela enfrentados em seu casamento, ela deve permanecer nele. Mesmo depois de reencontrar o que diz ter sido (ou ser) o grande amor de sua vida, para ela, impossível de esquecer. 

A mensagem deveria sem mais ou menos assim: porque escolhemos amar aqueles que amamos, e porque não conseguimos esquecer aqueles que não são foram feitos para ser. Um pouco clichê o livro, mas ao mesmo tempo uma leitura agradável.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Mrs. Dalloway - o Filme

Ontem assisti ao filme baseado no livro de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway. Como a leitura do livro foi, no meu caso, um primeiro contato com Virginia Woolf, a obra não tinha causado tanto impacto por não notar, num primeiro momento, o quanto de Virginia tem a obra.
O filme é fiel ao livro. É claro que com suas limitações, assim como tantos filmes adaptados de grandes obras literárias. Mas o mais importante, todos os personagens possuem angústias que eram as angústias da própria autora. A vida sem entusiasmo de Mrs. Dalloway é a primeira angústia. Os dias passados sem sentido, onde a preocupação única e vaga de sua vida são os preparativos de suas festas, a contestação interna de Mrs. Dalloway ao ver para onde sua vida a levou, à renúncia de emoções, a quase paralisia de propriamente viver.


O soldado o qual, recentemente retornou da Guerra, sofre sérios problemas psicológicos e é tratado por médicos com certo desdém, como simplesmente louco, que precisa de repouso. Foi o que Virginia certamente muito escutou em sua vida. As insinuações do porquê da necessidade do tratamento de isolamento, como uma obrigação, afinal, ele já havia atentado à sua própria vida anteriormente. É essa obrigação que Virginia contesta em praticamente toda sua vida, quando é obrigada a deixar Londres e sua vida agitada, para morar no interior, sem as emoções que lhe causariam tanto mal, afinal, ela também já havia atentado contra sua própria vida. 

É o rapaz que acaba se matando, dando à Clarissa Dalloway, ao mesmo tempo, o incentivo a libertação de seus tormentos, através da morte, assim como a revalorização da própria vida. Afinal, nas palavras de Virginia: 

“Someone has to die in order that the rest of us should value life more.”

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mrs. Dalloway

Luiz Felipe Pondé escreveu na Folha de São Paulo hoje, dia 12/04/2010 sobre "Mrs. Dalloway", obra de Virginia Woolf. Segue na íntegra o texto:




MORAVA EU num kibutz em Israel. No final do dia de trabalho físico extenuante, lia na porta do meu quarto, ensaiando meus primeiros cachimbos. Durante alguns meses devorei livros da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941). Entre eles, um que me marcou excepcionalmente foi "Mrs. Dalloway", publicado em 1925.

Revi o maravilhoso "As Horas" (2002), com Nicole Kidman. E sempre quando vejo esse filme me lembro de como ela foi essencial, ainda que de modo pontual, em minha visão de mundo. No fundo, sempre suspeitei de que cada dia é mais um dia sob o risco de ser devorado pelo sentimento último da melancolia. 
Às vezes na vida se faz necessário rompimentos com o cotidiano para que possamos ver melhor o sentido do que fazemos, ou a total falta de sentido. A vida se degrada facilmente na rotina de tentar mantê-la funcionando, por isso a derrota, como no livro "Mito de Sísifo" (1942), de Albert Camus, pode ser a condição necessária para a consciência repousar em paz consigo mesma. Vencer sempre pode ser um inferno. 
Na época, atravessando minha primeira (de várias) crises com minha formação médica então em curso, busquei fugir para alguma fronteira do mundo. Trabalhei no deserto do Neguev algumas vezes e posso dizer que o pôr do sol no deserto vazio é uma experiência de dar inveja. A possibilidade de caminhar pelo deserto, como me disse certa feita o escritor israelense Amós Oz, refaz a alma porque vemos nosso rosto refletido na poeira. O deserto nos ensina a humildade, e a humildade é sempre imbatível. Humildade nada tem a ver com humilhação, mas, ao contrário, humildade fala da consciência de que somos efêmeros como o vento. E só como efêmeros que podemos perceber a dádiva que é respirar. Há um modo misterioso em como o deserto chama seu nome quando você está disposto a ouvi-lo. 
Na época, já sabia que Virginia Woolf havia se suicidado e, por isso mesmo, quis conhecer sua obra. Nunca fui um deprimido clínico, mas sempre me surpreendi pelo fato de não sê-lo. Muitas vezes pareceu-me que, se fosse viver pelo que a razão me diz, já teria sucumbido à melancolia profunda. O que me encantou em Mrs. 
Dalloway foi seu esforço em ser normal e feliz e acreditar em si mesma e na sua fidelidade à rotina. No dia em que se passa a história, ela organiza uma festa em sua casa. Manter a vida aí se equipara ao esforço descomunal de erguer uma festa quando, no fundo, ela se sente vazia e sem razões para festejar. Entre uma alma triste e uma rotina vazia, ela opta pela segunda como falta de escolha porque não pode confiar na tristeza. 
Penso no número enorme de pessoas que se levantam pela manhã assim como quem carrega um corpo que não é seu. Mrs. Dalloway é o fim de quem ingenuamente acredita que as coisas sempre darão certo, bastando festejar a rotina comum. Não, a rotina é indiferente à nossa fidelidade, podendo nos destruir mesmo quando a servimos como a um senhor todo poderoso. O pesadelo de Mrs. Dalloway é se ver como estrangeira em sua própria alma. 
Aprendemos com ela que a vida não é necessariamente bela e que tentar negar isso é uma forma de permanecer escravo de sua possível monstruosidade. 
No fundo de nossa alma habitam monstros que a muito custo se mantêm em silêncio. Esses monstros, quando o mundo silencia, surgem na superfície mostrando o ridículo de nossa batalha diária. 
Quantas vezes mulheres apenas suportam o choro de seus filhos, sofrendo no fundo da alma o horror que é ser obrigada a amá-los quando não sentem por eles nada parecido com amor materno, mas apenas o incômodo causado por aqueles pequenos intrusos em suas vidas. 
Quantos homens sufocam diante da certeza de que já vivem uma vida sem amor, sem afeto e sem desejo, mas que isso é tudo que suportam ao lado de suas esposas. Quantos filhos sofrem por se sentir indiferentes para com o destino dos pais idosos, tentando convencer a si mesmos de que o amor pelos pais seria o certo, mas que nada conseguem além de desejar vê-los mortos e assim se sentirem livres finalmente. 
Entre as funções da civilização, uma é a tentativa de calar esses monstros criando ritos, rituais, festas para celebrar a frágil vitória contra essas criaturas deformadas, atormentadas pelo completo desinteresse pela vida. A verdade é que não há como civilizá-las, a não ser ensiná-las que elas não têm lugar no mundo dos vivos e que, por isso, devem sucumbir à rotina da infelicidade como norma da vida. 

ponde.folha@uol.com.br

segunda-feira, 5 de abril de 2010



Não foi a pedido de ninguém, mas sinto que falta um pouco das minhas palavras sobre algumas coisas que já li no passado. Como não há muita "discussão", pois poucos são os leitores (e comentadores) do blog, o incentivo às vezes é precário. Mas voilà: Em breve falarei um pouco sobre uma das minhas escritoras preferidas, Virginia Woolf. Comentarei um pouco sobre as obras Mrs. Dalloway, As Ondas, Orlando, Noite e Dia,  e alguns contos.

Para quem não sabe, Virginia fazia parte do famigerado grupo "Bloomsbury", do qual também fazia parte Sir Lord Keynes, grupo de artistas e intelectuais britânicos que existiu de 1905 ao fim da II Guerra Mundial. Aparentemente saiu mais um livro sobre o grupo recentemente. A Inglaterra é uma produtora assídua de biografias sobre o grupo e seus integrantes, tamanho o fascínio por eles e o modo em que se relacionavam, quem sabe. 
Uma das biografias que li e gostei, é "Virginia Woolf" by Nigel Nicolson, filho de Vita Sackville-West, amiga íntima de Virginia. Quem quiser ler o primeiro capítulo segue o link: http://www.nytimes.com/books/first/n/nicolson-woolf.html

quarta-feira, 31 de março de 2010

Leituras atuais

Enquanto isso,... espero "sentada" que as pessoas comprometidas com o "Desafio 12 livros em 12 meses" se pronunciem sobre o livro ainda de Janeiro, prossigo com a lista, é claro, e as leituras paralelas, mais claro ainda!







Não terminarei o "The Pilars of the Earth" este mês, dado que ninguém mais me acompanhou nas leituras, e o livro é um pouco maçante, decidi deixá-lo meio de lado, li apenas 5 % do livro segundo meu Kindle

Paralelamente estou lendo, livro impresso: "Sarah's Key" sobre uma garota judia de 10 anos que juntamente com sua família é presa pela polícia francesa, em Paris, em Julho de 1942. A maioria dos presos foram mandados para Auschwitz ou outros campos de concentração na própria França. Uma jornalista americana que mora em Paris se vê investigando profundamente a história ignorada pela maioria dos franceses, e acaba descobrindo-se interligada ao destino da menina. Até o momento é um livro bom, que eu indicaria, só não sei se existe uma tradução para o português, o exemplar que estou lendo é em inglês. A autora do livro é Tatiana de Rosnay, nascida em Paris, descendente de Ingleses, Franceses e Russos.
Continuo ainda a Leitura do "The Host", impulsionada inicialmente pela autora da saga "Twilight". É a leitura "leve", oportuno para ler em trânsito - ônibus - ambientes abertos, etc. Curiosidade: A Warner tem divulgado uma nova série, que me lembrou a história do livro, chama-se "V" e é sobre extraterrestres. Vamos aguardar para ver, estréia em Abril.


Estou ansiosa para começar a leitura de "Pride and Prejudice and Zombies" do autor, juntamente com Jane Austen, Seth Grahame-Smith. Sinopse: "A obra é uma releitura do romance de Jane Austen. A abertura dessa versão de Seth Grahame-Smith para a obra do século XIX já lança as impressões geradas pela praga misteriosa que se abateu sobre os campos aristocráticos do Sul da Inglaterra, onde os defuntos estão retornando à vida e partem crânios de pessoas comuns para devorar seus miolos. Grahame-Smith transfigura as passagens do texto de Jane Austen numa comédia de costumes. Além dos embates civilizados e de cortesia entre o casal de protagonistas, inclui batalhas violentas, em confrontos cheios de sangue e ossos quebrados. Conjugando amor, emoção e lutas de espada com canibalismo e milhares de cadáveres em decomposição, 'Orgulho e preconceito e zumbis' transforma uma obra da literatura mundial em outra história para o leitor." Vamos esperar para ver no que dá!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Choke - No sufoco

Indiquei alguns dias atrás a leitura do livro "No sufoco" e ontem, vagando pelos canais de TV eis que no Telecine Cult está passando o filme: Choke- No sufoco! Eu sinceramente não sabia da existência do filme, que é de 2008. O filme segue bem o livro, creio que para aqueles que assistirem ao filme terão uma boa referência.
Mas atenção, o filme, assim como o livro, é alternativo, ou seja, não irá apetecer aos fãs dos filmes "adocicados" e "belos". Está mais para "a vida como ela é". 

quarta-feira, 3 de março de 2010

O Símbolo Perdido


Terminei de ler o livro e posso dizer que apesar da leitura ter me "prendido", não foi muito do meu agrado. Por vários motivos, acho que utilizando sua técnica de escrita que "prende" o leitor, o autor prolongou demais algumas partes, e a história que seguia um ritmo acelerado, perdeu-se em meio a descrições não muito cabíveis; resumindo, a impressão que temos é que o autor perdeu o fio da história. Esse defeito pode não ser muito perceptível se a leitura se dá vagarosamente, mas no ritmo em que eu li o livro, atingi partes em que me deu raiva porque a história não tomava um rumo, e não surpreendeu no final.
Abaixo segue o link para uma crítica do livro, que o compara com "O Segredo". Com certeza as semelhanças são inegáveis, ambos apresentam como ponto crucial: o poder da mente. No Símbolo Perdido, a questão fica embebida numa ficção e tem seus pontos positivos, creio que qualquer pessoa que ler o livro não estará perdendo seu tempo, afinal ele é só um livro de ficção. O poder da mente e do pensamento de modificar o mundo material foi apresentado de maneira escrachada em O Segredo, que é basicamente focar seu pensamento em bens materiais que logo você os terá.
Essa capacidade da mente e do pensamento positivo não é novidade. Existe um filme - documentário chamado "Quem somos nós", que aborda esse assunto de maneira saudável. Particularmente, eu acredito que o pensar positivo e não somente ganancioso é o que nos leva a viver a vida melhor. Melhor em que sentido? Uma mente "saudável" produz mais que uma "doentia", e isso consegue-se através do equilíbrio, do trabalho da própria mente, do bem estar físico e psicológico. Em suma é um resultado de quem você é e como você encara sua vida, seus problemas e as pessoas ao seu redor. É subjetivo, mas energia boa e ruim estão nos nossos ambientes o tempo todo, e quem as emana? Nós, através de nossos estados de espírito.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Livros Bizarros


Respondendo ao Victor, que indicou alguns livros que fazem parte de sua lista de leituras, definitivamente o livro Zonas Úmidas não me atrai para a leitura. Um tempo atrás li uma crítica na Folha do livro, e me parece bem bizarro, e no sentido ruim da palavra.

Sinopse
Helen Memel tem 18 anos e hábitos no mínimo escatológicos. Usa a secreção vaginal como perfume em gotas atrás das orelhas, cultiva caroços de abacate que gosta de introduzir na vagina e sente imenso prazer em sentar nos vasos sanitários públicos quando estão bem sujos. Ela também confessa, sem qualquer sombra de pudor, que tem enorme orgulho de suas hemorróidas com aspecto de couve-flor. A ação se passa no setor de proctologia de um grande hospital alemão, onde a protagonista e narradora da história se recupera de uma cirurgia no ânus. É quando ela tem a oportunidade de refletir sobre seu corpo - entre uma e outra fantasia sexual com a equipe de enfermeiros que se tornam sua maior companhia no quarto do hospital. A intervenção foi necessária devido a um acidente provocado por ela mesma numa tentativa frustrada de barbear sozinha suas partes íntimas.

Para ler algo bizarro, eu indico ler "No Sufoco" de Chuck Palahniuk. É o mesmo autor de "Clube da Luta". Para quem assistiu ao filme e gostou, a leitura do livro é interessante, o autor apresenta mais "receitas" que poderiam catalogar o livro como manual "terrorista". "No sufoco" é um caso a parte, mas é um livro divertido, onde o autor já adverte no início: "Se você vai ler isto, é melhor desistir. Depois de umas duas páginas, você não vai mais querer estar aí. Portanto, deixe para lá. Vá embora. Saia enquanto você ainda está inteiro.

Sinopse
Um menino traumatizado por uma infância atribulada ao lado da mãe amalucada se transforma no adulto golpista Victor Mancini, o protagonista de 'No sufoco', o último romance de Chuck Palahniuk. Victor, um ex-estudante de Medicina que freqüenta grupos sexólatras anônimos sem a menor intenção de curar qualquer compulsão, mas sim de conseguir mais parceiras sexuais, aplica diariamente o mesmo golpe - finge engasgar-se ao comer e estar prestes a sufocar. Comove quem o socorre, contando que passa por dificuldades financeiras, o que, invariavelmente, leva seus salvadores a lhe enviarem dinheiro. O dinheiro que obtém dos golpes nos bons samaritanos que o acodem serve para pagar o tratamento da mãe, internada em um sanatório com Mal de Alzheimer. Um anti-herói detestável, Victor demonstra, entretanto, um intenso sentimento de solidariedade aos companheiros de trabalho e não quer que a mãe morra, embora não sonhe com sua melhora. Mesmo assim, o autor adverte logo nas primeiras páginas que seu livro é a biografia de alguém que nutre um profundo desprezo pela humanidade. Enquanto transita pelo mesmo universo sombrio dos personagens de 'Clube da luta', como os grupos de ajuda anônimos, Victor tem um emprego tão insólito quanto seus hábitos sociais, trabalhando num museu a céu aberto em que todos os empregados usam trajes de época e fingem estar congelados no ano de 1734. Entre as punições dadas a quem se comportar como se vivesse em outro século, como, por exemplo, esquecer-se de tirar o relógio do pulso, há castigos físicos e humilhantes. Victor suporta tudo com suas observações cínicas e sarcásticas, que só não são suficientes para protegê-lo da verdade sobre sua origem.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Para quem já leu e gostou de algum livro da Clarice Lispector, este livro é uma delícia. Mesmo para aqueles que não conhecem suas obras, somente de "ouvir" falar pode vir a se interessar em ler Clarice, ou não. Esta biografia é muito rica e de prazerosa leitura.
Assumo que a leitura de Clarice não é uma das mais fáceis, ainda mais para os leitores não acostumados a leituras um tanto quanto "vagas" ou chamadas "Fluxo de consciência", os quais Virginia Woolf e William Faulkner representam muito bem este estilo.
Particularmente eu me identifico com tal estilo, porém assumo a dificuldade que este impõe ao leitor.
De qualquer maneira, indico este livro aqueles que gostariam de saber um pouco mais sobre Clarice, com ou sem maiores pretensões.
P.S: Este livro foi presente do meu pai :-)

Trilogia "The girl..."



Terminado o Livro "The girl with the dragon tattoo". Bom o livro, muito suspense, parece livro que deverá em breve virar um filme de ação, com uma sequência é claro, pois antes de escolhermos os livros que iríamos ler não notamos que este é o primeiro livro de uma trilogia. A história continua em "The girl who played with fire", no entanto o livro pode ser lido e entendido sem a leitura dos outros, assim como os posteriores também devem fornecer aquela famosa "explicação" para aqueles que resolvem pegar o bonde andando,...

Enfim, a leitura de fevereiro já começou: "The Lost Symbol". Estilo de escrita de Dan Brown que mesmo que o livro não seja uma obra literária de prestígio, é com certeza uma obra que prende o leitor e o faz até ficar sem fôlego durante a leitura.

Não sou muito fã deste tipo de literatura, mas enfim, gosto de ler de tudo, e com certeza é uma leitura que me agrada sim, só não necessariamente é das minhas preferidas.

Aguardo os comentários.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Desafio: 12 Livros/12 Meses ( 12 books/12 Months)


Uma amiga, Veruska, deu a idéia de fazermos esse desafio. Escolhemos os livros e procuramos pessoas para se juntarem a nós. Estamos num grupo de algumas pessoas lendo os livros relacionados abaixo; Estamos atrasadas nas leituras, estou para terminar o livro de janeiro agora. Quem quiser discutir conosco as leituras, sinta-se a vontade!



Ah! Por enquanto só temos essa relação, faltam 4 livros, portanto, podem começar a indicar leituras! ;-)


Livros:

1) Janeiro : "The girls with the dragon tattoo" - Stieg Larson

2) Fevereiro: "The lost symbol" - Dan Brown

3) Março: "Pillars of the Earth" - Ken Follets

4) Abril: "Love the one you're with" - Emily Griffin

5) Maio: "The help" - Kathryn Stockett

6) Junho: "This charming man" -
Marian Keyes

7) Julho: "Ana Karenina" - Leo Tolstoy

8) Agosto: "The boy in the stripe pajamas" - John Boyne

Primeiras palavras


Bom dia!

Gostaria de inaugurar este espaço com algumas palavras:

Gosto muito de literatura, aprecio bons filmes, e qualquer coisa relacionada à cultura me atrai. Gosto de aprender novas línguas, ler muito e escrever também. Adoraria que este espaço fosse compartilhado com as pessoas que também apreciem e respirem um pouco de cultura.

Seria interessante que fosse este um local para trocar "figurinhas" sobre os mais variados assuntos. Como por exemplo, que livro estou lendo, já li, indicaria, etc. e tal.